19 de outubro de 2012

Pais não pagam refeições dos filhos nas escolas



Ainda sobre a notícia da menina de Quarteira que supostamente terá ficado sem comer na escola.

É perigoso tirar conclusões sem conhecer os factos. É muitíssimo injusto julgar sem conhecer os factos dos dois lados. Por essa razão publico a Comunicação Escola-Família enviada pela directora da escola a esclarecer o que aconteceu. Cada um tire as suas conclusões.

Exº Senhor Pai / Mãe / Encarregado(a) de Educação 

Em função da notícia vinda a público, hoje, na comunicação social, sinto-me na obrigação de partilhar convosco os esclarecimentos necessários para repor a verdade do que realmente aconteceu. 

Esta missiva dirige-se especialmente a si, pai /mãe e faço-o pelo respeito que me merece. 

Passemos aos factos: 

1. A escola identificada na notícia está errada. A situação aconteceu na EB1/Jardim de Infância da Abelheira.  

2. “Nada justifica uma criança a passar fome. Não é justo castigá-la a ela” – são supostas declarações da mãe da criança. Não poderia estar mais de acordo com esta afirmação, e tanto assim é, que a criança comeu na sala onde ficou, durante a hora de almoço, acompanhada de uma educadora. 

3. É, portanto, completamente falso que esta criança tenha sido colocada no refeitório, “sentada ao lado dos colegas, enquanto estes almoçavam”; a acontecer, seria absolutamente desumano e nisso estamos todos de acordo. 

4. “Uma das funcionárias foi impedida pela direção da escola de pagar a refeição da menina do seu próprio bolso” – gostaria muito (e peço a quem identificou esta situação que me informe) quem foi a funcionária que prestou estas declarações uma vez que nenhuma funcionária me contactou sobre este assunto nem a nenhum elemento da direção. Assim, ou a comunicação social ou os supostos pais que querem manter o anonimato ou a suposta funcionária estará a mentir.

5. No dia 4 de setembro foi divulgada uma comunicação  escola família onde este assunto foi abordado. Relembro: Existem, neste momento, dívidas de refeições para com o Agrupamento, no valor de 20.000 €, aproximadamente. Como compreenderá, esta situação é insustentável, até porque põe em risco o fornecimento de refeições a todos os alunos. Estou disponível para procurar uma solução com todos os que mantêm esta situação, como, aliás, tem acontecido. Para isso, os pais /encarregados de educação que têm este problema terão que vir ter connosco, conversar e assumir os compromissos possíveis, dentro das várias possibilidades que temos para lhes propor. A partir do dia 9 de outubro, nenhuma criança poderá almoçar na escola sem o respetivo pagamento e sem dívidas anteriores saldadas /negociadas. Foi uma decisão difícil de tomar mas absolutamente necessária, como compreenderá. 

6. Esta medida foi, depois, debatida com Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento que, não só a apoiaram como a consideraram absolutamente necessária para normalizar a situação, uma vez que, só assim, poderemos disponib bilizar ajuda suplementar aos alunos que dela efetivamente necessitam.  

7. Em todas as receções aos pais e encarregados de educação das escolas do agrupamento foram os mesmos informados, por mim, sobre a decisão tomada e, relembro também, que recebi o apoio e a concordância dos mesmos, tendo eu, na altura, informado que nenhuma criança ficaria sem comer ou passaria fome – apenas não almoçaria. 

8. Das situações de dívida, a situação presente é a seguinte: 4.696,29€ nunca serão recuperados porque os alunos regressaram ao país de origem, foram transferidos para outras escolas ou estão em situação de fuga à escolaridade; das dívidas negociadas no último ano, muitas já se encontram totalmente pagas havendo, neste momento, 14 famílias a efetuar o pagamento em prestações, de acordo com as suas possibilidades - este montante tem o valor 2.372,72€; 31 famílias continuam sem cumprir as suas obrigações nem contactaram a escola para resolver a situação (6.530,85€), havendo famílias com dívidas superiores aos 400€. A diferença para o montante indicado no ponto 5 representa dívida que já foi perdoada e ou /regularizada. 

9. A frontalidade com que sempre me relacionei consigo permite-me dizer-lhe que, efetivamente, há comportamentos de negligência grave que têm que ser denunciados e combatidos, a bem da saúde e da educação das nossas crianças. Mas com a mesma frontalidade, e sem querer fazer juízos de valor, pergunto-lhe: era capaz de deixar o/a seu/sua filho(a) na escola, depois de ser informado que, ao mesma não seria dado almoço no refeitório e de lhe ter sido indicado, repetidas vezes, como resolver esta situação, inclusivamente no próprio dia e não fazer nada? Muito sinceramente, eu nunca seria capaz de o fazer.  

Expostos os factos, quero informá-lo que acredito na sabedoria popular e, “como quem não se sente não é filho de boa gente”, reservo-me o direito de agir, nos termos da lei, contra aqueles que, deliberadamente, fizeram declarações difamatórias da minha ética profissional e do bom nome da escola e dos profissionais que nela trabalham diariamente, incluindo o jornal que publicou a notícia da forma como o fez. Esclareço-o que  foram transmitidas ao senhor jornalista todas as informações necessárias para o esclarecimento cabal, tendo sido enviada, por e-mail, a comunicação escola-família que atrás referida.  

Aos muitos cidadãos e cidadãs responsáveis que se voluntariaram para pagar as refeições desta menina informo que a Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas Drª Laura Ayres receberá, de bom grado, o contributo da vossa generosidade, não para esta criança em particular, uma vez que não precisa, mas para as muitas outras que necessitam de ajuda (associacaodepais.quarteira@gmail.com). 

Termino enviando-lhe, novamente, uma palavra de apreço e reconhecimento, em tempos tão difíceis para todos, lembrando-lhe que, por muito grandes que sejam as dificuldades e os obstáculos, pode contar sempre comigo e com a equipa que comigo trabalha. 

16 de outubro de 2012
A Diretora
Conceição Bernardes

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DR.ª LAURA AYRES
JI nº 3 de Quarteira – EB1 /JI da Abelheira –EB1 nº 2 de Quarteira
EB1 da Fonte Santa - EB23 de Quarteira - Escola Secundária Drª Laura Ayres

6 comentários:

  1. Eu ja tirei as minhas conclusoes, obrigada!
    Neste momento tbem ja tudo serve para denegrir ainda mais o estado do pais, enfim...

    Maggie

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  2. Puxa, vida!
    É uma história intensa!

    http://sstyleyourself.blogspot.pt/

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  3. Esta história pode servir para se falar do papel dos pais. Nós pais não podemos achar que a escola tem obrigação de "criar" os nossos filhos.
    Eu não falo só de comida, falo tambem de educação, de regras, falo até de carinho, mimo e amor.
    Vou todos os dias buscar a minha filha à escola e tento (sei que talvez devesse fazer mais) participar na vida escolar da minha filha. Vejo coisas que me revoltam, atitudes de pais que são os modelos para os filhos.
    Uma verdadeira tristeza.
    Fui educada de forma a que deviamos ter respeito pelos professores e é isso que passo à minha filha.
    Uma mãe de uma colega de turma da minha filha teve este comentário comigo (e cheia de orgulho e cheia de certezas) " Eu digo à minha filha se a professora levantar a voz tu gritas mais que ela ...."
    Temos que dar valor às nossas instituições (nem sempre perfeitas), temos que voltar a ter "vergonha na cara".

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    1. Uma grande verdade. Os pais têm de se responsabilizar pelos filhos.

      O dia em que os filhos perdem o respeito aos professores é a véspera do dia em que perdem o respeito aos pais.

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  4. Eu ouvi falar disto, mas nem perdi tempo a ler a notícia, confesso. Cheirou-me logo a "aldrabice jornalística".
    Nunca uma criança fica sem comer, por mais pobre que a escola seja... E sim, há por aí muitos pais que não querem saber, e essa situação até se vê mais em famílias com mais posses. Digo isto porque existem colegas da minha filha que vão para a escola sem comer e sem comida apenas por pura negligência dos pais, que não se preocupam. Hoje em dia a grande maioria dos pais acha que é apenas a escola que tem de criar e educar os filhos...

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  5. Eu já tirei também as minhas conclusões, que são de pensar que ostracizar a criança como a escola fez pondo-a a comer numa sala fechada, longe dos colegas, um pão com manteiga, é de facto uma solução caridosa e plena de carinho e valores humanos. Antes de ter deixado a situação chegar áquele ponto a sra. directora da escola devia ter EXIGIDO que os pais desta menina reunissem com ela para auferir a situação real da familia. Porque é muito bonito dizer que não precisam e tal porque as tabelas do IRS o comprovam, mas essas contas que as escolas fazem não reflectem a realidade financeira das familias, e disso sei eu bem pois é o que me acontece. Este caso mete nojo de parte a parte, infelizmente quem paga o pato é a pobre da criança.
    http://fashionfauxpas-mintjulep.blogspot.com

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Digam de vossa justiça!

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