3 de abril de 2014

Comovi-me #1

"há uma guerra no mundo que eu não conhecia: é entre mães que trabalham e mães a tempo inteiro. está por todo o lado. 
nunca fez parte dos meus planos ser mãe a tempo inteiro. aconteceu. aconteceu no dia em que eu e ele olhámos para ela e não fomos capazes: tinha 5 meses. nesse dia eu disse ao meu patrão que não ia voltar: ia ser mãe a tempo inteiro. financeiramente ia ser mais difícil para nós, emocionalmente mais fácil. passaram quase 3 anos.
às vezes sinto que tenho de pedir desculpa à minha mãe. ela foi mãe a tempo inteiro. ela estava lá sempre. para nos fazer bolos, desinfectar as feridas, comprar gelados, pentear os nossos cabelos. e eu às vezes tinha vergonha: dizia baixinho quando perguntavam na escola. a minha mãe é doméstica. escrevia em letras pequeninas: doméstica. naqueles dias as mães que ficavam em casa eram domésticas. a mãe da raquel era médica. a da sandra usava saltos altos, era advogada. a minha estava lá sempre: descalça, sentada no pátio a fazer-nos colares de pompons. 
as pessoas dizem que eu devia voltar a trabalhar. que me fazia bem. que tenho de sair de casa, ganhar o meu dinheiro, pensar mais em mim. nunca respondo: desisti de explicar. eu gosto disto. isto de ser mãe a tempo inteiro. isto de ser doméstica. percebo que não é para toda a gente, que para algumas mães pode ser cansativo, frustrante, desmotivador. percebo isso. percebo isso porque às vezes é: cansativo, frustrante, desmotivador. mas a maioria das vezes é bom. é tão bom: estar sempre aqui. fazer-lhes bolos, desinfectar-lhes as feridas, comprar-lhes gelados, pentear-lhes os cabelos.
não o trocava por nada: o prazer de ver um ser humano nascer, crescer: cada descoberta, cada conquista. vi-as todas. eu estive lá sempre. agradeço a sorte que tenho: estes anos com eles, todos os dias, todo o dia. no fim do dia, quando deito a cabeça na almofada sinto-me bem. realizada. também tenho esse direito: de me sentir realizada.
por isso esta guerra que há no mundo eu não percebo: entre mães que trabalham e são sempre acusadas de passar pouco tempo com os filhos e mães que ficam em casa e são sempre subestimadas por quem trabalha. digo-o com orgulho: quando me perguntam digo: sou mãe, estou em casa com os meus filhos. e às vezes ele chega a casa e eles correm à nossa volta e gritam e eu olho para ele e respiro fundo e digo que tivemos um dia difícil:  houve birras, leite entornado, ninguém comeu a sopa, não consegui estender a roupa, ela bateu com a cabeça, não almocei. e depois calo-me. calo-me porque na minha cabeça ele teve um dia pior: porque eu também vi a maria a desenhar uma flor. vi o miguel a acordar da sesta e a esfregar os olhos enquanto sorria. vi-a a dançar de mão dada com ele e a darem gargalhadas muito alto. adormeci-a nos meu braços. ouvi-o dizer balão pela primeira vez. ouvi-a a perguntar-lhe: miguelito gostas de mim? abracei-a quando ela escorregou e bateu com a cabeça. ouvi-a dizer obrigada mamã. calo-me porque fizemos um bolo juntos e comemos uma fatia enquanto ainda estava quente. porque levei-os à janela para verem a chuva e eles estenderam as mãos. eles estavam felizes a sentir a chuva. calo-me porque lhes dei banho, enrolei-os numa toalha e levei-os, um de cada vez, encostados ao meu peito para cima da nossa cama. fiz tudo devagar: tinhamos todo o tempo ali, na nossa casa. calo-me: na minha cabeça ele teve um dia muito pior. na minha cabeça de doméstica. na cabeça de quem gosta disto de ser mãe a tempo inteiro. conto-lhe todas estas coisas e ele sorri: sei que ele gostava de cá estar. sei que ele não aguenta mais de três dias sem trabalhar. não somos iguais.
as mães não são iguais.
e eu admiro-as: as mães que trabalham. as mães que estão longe dos filhos a trabalhar para lhes dar o que eles precisam. o que elas querem conquistar: as que o fazem por eles, por elas. as que perdem momentos: momentos que elas não sabem que perderam. as que saem de casa e deixam os filhos ainda a dormir: as que não os vêem despertar devagarinho. as que comem sanduíches de perú desfiado em frente ao computador enquanto trabalham depressa para sairem mais cedo: as que não fazem o avião todos os dias ao almoço. as que chegam cansadas e têm de fazer tudo depressa: as que não passaram a tarde no parque a subir o escorrega num dia de sol. as que deitam a cabeça na almofada e sentem que passaram naquele dia pouco tempo com seus filhos: eu estive lá sempre. para mim elas são as maiores. digo-o sem problemas: eu tenho dias difíceis. trabalho muito: limpo, aspiro, carrego, passo: mas as mães que têm de trabalhar para mim são as maiores. os pais.
um dia serei uma. o meu coração vai estar pequenino nesse dia.

mãe: outra vez.
fi-lo outra vez: disse que as que mães que trabalham são mais fortes do que nós. mas vês todas as coisas que elas perdem? leste aquilo que dizia que elas têm filhos para os verem a dormir? são as maiores. eu sei que tu me entendes: tu que estavas lá sempre.
e sei que algumas delas também acham que nós, domésticas, somos as maiores."

Li este post da autora do eu, ele, a maria e o miguel, e fiquei comovida.
Tocou-me.
Já fui a mãe que apenas vê os filhos a dormir.
Já fui a mãe que perdeu o emprego na licença de maternidade do nº3.
Fui a mãe que não sabia como manter a casa e continuar a alimentar os filhos.
Fui a mãe que batalhou e arranjou novo emprego.
Agora, sou a mãe que sente que está a perder o crescimento dos filhos.
Agora sou a mãe que quase não vê os filhos.
Será que não pode haver meio-termo entre o tudo ou nada?

6 comentários:

  1. Muito bonito :)

    I follow you beautiful blog. I hope you will follow me back and I will wait for you in my blog www.gabusiek.blogspot.com

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  2. Também gostei imenso desse post quando o li e também me revi em imensos aspectos. Tal como tu também fiquei sem trabalho durante a gravidez, também fui a mãe que está disponível para todos os momentos e que acompanha o dia a dia dos filhos, e agora regressei ao trabalho fora de casa e o tempo que estou com os miúdos é muito pouco... Bjs

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  3. Eu acho que nos devia ser dado o poder de escolha. Se eu conseguisse monetariamente também ficaria em casa com os meus filhos...

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  4. As palavras dela podiam ser as minhas. Desisti de tudo para ver o meu filho crescer e para estar sempre lá com ele, e ainda hoje em dia continuo a ter de sorrir quando membros da familia fazem por não entender que foi esta a nossa - que eu não sou egoista e as coisas devem ser discutidas e decididas a dois - opção, foi esta a nossa escolha, sorrio e agradeço muito muito muito quando me ligam a dizer que viram um anúncio de emprego e pensaram logo que seria bom para mim responder a esse anúncio, independentemente do emprego ser ou não adequado a mim, a nós como familia, independentemente de tentarem saber se eu quero trabalhar de novo ou não. Não sei se as mães que trabalham são as maiores, sei que eu não era capaz de continuar e que a mim, estava a matar-me ser uma mãe que trabalha. Prefiro ser a sopeira, sim, e? digo tantas vezes, mas mesmo assim parece que ninguém - ou quase ninguém - entende, e continhuam a aconselhar-me trabalhos pra afazer, empregos para me candidatar, caminhos para seguir. Porque é que é tão dificil para as mulheres que trabalham compreender que o trabalhar fora de casa não é para toda a gente, que não somos todos iguais e que não temos todos os mesmos objectivos, desejos e até capacidades? Há mesmo uma guerra, e eu ando cansada dela, daí o ter-me afastado tanto das velhas amigas e de alguns familiares...
    http://bloglairdutemps.blogspot.pt/

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  5. Tb sigo esse blog mas nunca vi o post, fico agora a ver...

    Tb gostei mto daquele da foto...chorei..

    www.margaridaflordaminhavida.blogspot.pt

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  6. Uau... de repente lemos coisas destas e sentimos que eram as palavras que tínhamos cá dentro e não sabíamos como as expressar.

    Kisses
    MSM

    cluelessbyfashion.blogspot.com

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Digam de vossa justiça!

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