31 de dezembro de 2013
Ultrapassar 2013
O ano de 2013 foi um turbilhão de emoções na minha vida.
Passei o Natal de 2012 com a doce promessa de um emprego para 2 de Janeiro de 2013. No último dia do ano recebi um e-mail esquivo, que faltando totalmente à verdade, dava o dito por não dito, sem nunca assumir o acordado. Magoou-me muito.
Foi um pontapé no estômago. Entrei o novo ano com o peso do desemprego em cima.
Tínhamos chegado ao fundo do poço, raspado as últimas migalhas do que nos restava. Estávamos em risco de perder a casa e de ficar na rua com três crianças pequenas.
Olhava para eles e o desespero deu lugar à determinação. Eu não podia deixar que algo de mal lhes acontecesse. Eu teria de dar a volta. Como, não sabia.
Para isso teria de fazer algo novo. Teria de descobrir um novo caminho, já que a tradicional pesquisa de emprego, com o envio de CV e partilha da situação com todos os contactos profissionais não estava a dar frutos. Todas as empresas estavam a despedir e não tinham lugar para mim. Ao envio de CV nunca tive resposta. Não sei se pela idade, se pela senioridade na carreira. As poucas vagas eram para júniores: gente nova, com sangue na guelra e barata.
Olhei para os meus filhos e decidi que tinha de fazer o que ainda não tinha feito. Tinha de trilhar um caminho novo que me levasse a bom porto.
Não podemos continuar a fazer o mesmo de sempre e esperar um desfecho diferente, já nos explicou Einstein.
Tentei pensar de forma diferente, procurar outras áreas fora da minha zona de conforto.
Observei que em tempo de crise, todos se refreiam no consumo. Tudo o que possa ser considerado supérfluo era preterido.
Olhei para o essencial. O que era realmente importante para todos? O que ninguém poderia dispensar, mesmo que quisesse?
A resposta começou a formar-se no meu pensamento. A Comida. Todos precisamos de comer. Todos os dias e várias vezes ao dia. O que ingerimos desaparece. Deixa de existir. Voltamos sempre a a ter de comprar comida.
Virei-me para esta área. Comecei por confeccionar bolos e bolinhos. Pesquisei receitas, métodos e segredos. Inventei as minhas próprias combinações. Fiz comida, bolos, bolinhos e especialidades gourmet. Arranjei clientes. Tive uma enorme aceitação nos meus artigos. Todos apreciavam o que fazia. Não só me pagavam pelo que fazia como ainda me enchiam o ego com elogios! Foi reconfortante. Recuperei as forças e a auto-estima.
Descobri que mesmo em tempos de crise todos precisam de comer. Quem tem emprego tem falta do bem mais escasso, o tempo. Tempo para cozinhar uma refeição diferente, para fazer um bolo para celebrar um momento especial.
Dediquei-me a esta actividade com todo o amor e carinho, que se reflectiam no resultado final. Estava a dar muito de mim no que fazia e a receber muito em troca. O amor que punha na confecção das minhas iguarias, era-me retribuído em enormes elogios.
Descobri caminhos novos, competências que não sabia que tinha. Eu quase não cozinhava. Tinha quem o fizesse por mim. Trabalhava muito mas chegava a casa e tinha o jantar pronto. Eu própria não tinha tempo para a cozinha. Não tinha de desenvolver as artes da culinária.
A necessidade foi mãe da evolução. Estudei, pesquisei, testei e descobri que tinha um dom, ou um gosto muito especial para fazer coisas diferentes e muito apreciadas por quem as provava.
Foi um caminho duro. Não só estudava novas receitas, como fazia compras, cozinhava e procurava clientes para as minhas iguarias.
E ainda era mãe, mulher e pessoa. Tentava cuidar de tudo como podia. Algumas vezes, algumas coisas ficavam para trás. Tudo menos a vontade de dar uma vida confortável aos meus filhos. Com um tecto e comida suficientes e amor e carinho em enorme quantidade.
A minha determinação deu frutos. Se esta nova actividade não me permitia pagar uma renda, já era suficiente para satisfazer as necessidades básicas dos meus filhos. Ganhei uma certeza. Acontecesse o que acontecesse, eles nunca iriam passar fome. Desde que eu tivesse o suficiente para comprar alguns ingredientes, podia transformá-los em algo único, receber dinheiro por isso, com o qual poderia voltar a comprar mais ingredientes e ainda alimentar os meus filhos.
Este novo alento e auto-estima trouxe-me algo de muito bom: um emprego!
Chegou à minha vida a meio do ano, em Junho. Dediquei-me com alma e coração ao novo projecto. Prescindi de férias com os meus filhos, mas tive a alegria de voltar ao mercado de trabalho. Um emprego muito abaixo do nível de carreira que tinha tido. Um enorme retrocesso financeiro. Ainda assim um oportunidade a agarrar com unhas e dentes. Se para voltar a trabalhar teria de aceitar ganhar quase metade do que estava habituada, assim seria. São sinais dos tempos, da crise em que vivemos. Descobri que entrei numa empresa mais que fantástica, onde adorava ficar, com progressão na carreira merecida. Tenho esperança que isso aconteça apesar de saber que isso não é política das empresas. As progressões são lentas, curtas e nem sempre justas. Quero acreditar que o meu mérito será reconhecido. Quando deixar de acreditar nisso posso sempre procurar novas oportunidades. É mais fácil arranjar emprego quando temos um emprego. A nossa capacidade negocial sobe consideravelmente. Era o que eu não tinha quando arranjei este emprego. Só voltar ao activo era pralá de bom! Não podia perder a oportunidade com negociações salariais. Se estou arrependida? Não. Nunca!
As oportunidades têm de ser aproveitadas. Depois podemos procurar algo melhor. Nunca recusar uma oportunidade pequena, esperando pela grande. Ela não nos vai bater à porta.
Este post já vai muito longo. A mensagem final que queria deixar é apenas uma: nunca desistam!
Lutem, procurem, voltem a lutar, voltem a procurar. Não baixem os braços nunca! Quando encontrarem uma oportunidade, agarrem-na. Por muito pequenina que seja. Em breve, melhores dias virão. Haverá melhores oportunidades para todos nós. Para já temos de agarrar o que a vida nos dá.
E este blog é isto mesmo, uma ode à vida e às coisas boas que ela nos dá!
Obrigada pelo apoio e o carinho que me têm dado. Nem imaginam o bem que fazem ao estarem aí, ao deixarem os vossos comentários, ao incentivarem e ao apoiarem, apesar de nem sequer me conhecerem, apesar de nunca terem visto a minha cara, nem ouvido a minha voz.
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"Se caíres 7 vezes levantas-te 8", já ouvi dizer...Feliz ano novo. Beijnhos. E nunca percas essa força e determinação!
ResponderEliminarQue ano fantástico....Parabéns!
ResponderEliminarUm Novo Ano à medida dos seus desejos e de concretização dos teus mais belos sonhos!
Beijinhos
Maria
:) Isto é que foi ultrapassar 2013 :) Muito Obrigada pela partilha tão verdadeira de um ano de vida, que em tudo foi desafiante, mas que não a viu baixar os braços, pelos amores que tem para cuidar! Até eu fico mais determinada com esta leitura :) 2014 será um ano maravilhoso, porque vamos fazer por isso - e que o amor nos mova...sempre...para aproveitarmos o Caminho! Teremos mais 365 dias para seguir em frente :) FELIZ 2014 para si e para os seus :) E continue a inspirar-nos! :)
ResponderEliminarParabéns pela garra e determinação! Espero que 2014 te traga tudo o que mais desejas para ti e para os teus porque mereces. És um excelente exemplo e certamente um grande orgulho para os teus filhos. Que este ano te recompense o esforço e dedicação. Parabéns!
ResponderEliminarSó posso dizer PARABÉNS pela tenacidade!
ResponderEliminarMerece o melhor para 2014!
Parabéns pela força e determinação. Espero que 2014 seja um bom ano para ti, mereces.
ResponderEliminarAdorei a força e senti que eu mesma teria a capacidade, pelos meus filhos, de fazer acontecer. Parabéns!!
ResponderEliminarTambém conseguirás!
EliminarNunca desistas! Por eles conseguimos tudo!
Obrigada por comentares.
Beijinhos,
Paula