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Gabriel Garcia Marquez |
O escritor colombiano
Gabriel García Márquez morreu, aos 87 anos, na Cidade do México.
Prémio Nóbel da Literatura de 1982, García Márquez deixa a mulher, Mercedes Barcha Pardo, e dois filhos.
Nasceu em Aracataca, Colômbia a 6 de março de 1927. Morreu na Cidade do México a 17 de abril de 2014. Foi escritor, jornalista, editor e ativista colombiano. Considerado um dos autores mais importantes do Séc XX, ganhou o Prémio Nobel de Literatura em 1982 pelo conjunto da sua obra, que entre outros livros inclui o famoso
Cem Anos de Solidão. Foi responsável por criar o realismo mágico na literatura latino-americana. Viajou muito pela Europa e viveu até a morte no México. Era pai do cineasta
Rodrigo García.
Em abril de 2009 declarou que se aposentou e que não pretendia escrever mais livros. Essa notícia foi confirmada em 2012, quando o seu irmão,
Jaime Garcia Marquez, anunciou que foi diagnosticada demência a
Gabriel Garcia Marquez e que, embora estivesse em bom estado físico, havia perdido a memória e não voltaria a escrever.
Aos 22 anos,
Gabriel García Márquez tinha abandonado a Faculdade de Direito para se dedicar à vida de boémio literário. Instalado em Barranquilla, no litoral caribenho, vivia de camisa florida e bigode frondoso, lia e escrevia sem parar, sobrevivendo com os trocos que ganhava num jornal local. Um dia veio procurá-lo, na livraria onde trabalhava, uma senhora que ele a princípio não reconheceu. Era sua mãe. Vinha pedir ajuda para vender a casa dos avós, na cidadezinha colombiana de
Aracataca, onde ele tinha nascido, em 1927, e vivido até 8 anos de idade. O reencontro com a terra natal abriu os olhos do aspirante a escritor para o potencial literário de memórias de família e lendas populares, que alimentariam nas décadas seguintes a obra do vencedor do
Prémio Nóbel de Literatura de 1982. Na sua autobiografia, “Viver para contar”, de 2002,
García Márquez recordou aquela viagem como a decisão mais importante de sua vida.
Criado pelos avós, ambos exímios contadores de histórias, García Márquez teve com eles as primeiras lições de narrativa. O avô,
Nicolás Ricardo Márquez Mejía, um temido coronel que o neto só chamava de “Papalelo”, mostrou-lhe o mundo das relações de poder. A avó,
Tranquilina Iguarán, cheia de superstições e histórias de fantasmas, apresentou ao jovem as maravilhas e terrores do folclore. Em dezenas de livros de ficção e não ficção publicados ao longo de seis décadas de carreira, muitos dos quais se tornaram clássicos do século XX, como “
Cem anos de solidão”, “
O outono do patriarca”, “
Amor nos tempos do cólera” e “
Crónica de uma morte anunciada”, García Márquez expressou uma visão do mundo que abarcava tanto os meandros da política latino-americana quanto a dimensão fantástica da existência.
A capital de um universo ficcional
Esse estilo começou a se consolidar em seu primeiro romance, “A revoada”, publicado em 1955. Foi nele a primeira aparição da cidade fictícia de
Macondo, que criou ainda sob o impacto do regresso a
Aracataca. Assim como sua terra natal, Macondo era um povoado colombiano empobrecido, dominado por uma companhia bananeira, mas com um rico repertório de histórias locais. A cidade surgiu em vários outros livros do escritor, como “
Ninguém escreve ao coronel” (1961) e “
Cem anos de solidão” (1967).
Foi este último que projetou o nome de García Márquez no cenário mundial. Aos 40 anos, ele já havia lançado outros cinco livros de ficção, mas nunca tinha ganhado um tostão com literatura. Mantinha-se como jornalista, primeiro em vários veículos colombianos, como “El Universal”, “El Heraldo” e “El Espectador”, onde aproveitava as horas vagas para escrever ficção (nessa época descobriu Kafka, que o impressionou muito, pois não imaginava que era permitido escrever sobre coisas como um homem que vira uma barata). Depois foi correspondente na Europa, nos Estados Unidos e no México, onde se instalou no início dos anos 60 com a mulher, Mercedes Barcha, e o filho Rodrigo. Na capital mexicana, em 1964, nasceu o seu segundo filho, Gonzalo.
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Gabriel Garcia Marquez |
Foi nessa época, enquanto conduzia numa estrada mexicana, que o escritor vislumbrou aquela que seria a frase de abertura de “
Cem anos de solidão”: “
Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo”. Gostava de dizer que, depois disso voltou para casa e trancou-se pelos anos seguintes para escrever o romance que conta a história de sete gerações da família Buendía.
“
Cem anos de solidão” acompanha a intrincada árvore genealógica dos Buendía, na qual o autor parece se divertir com a repetição de nomes (Aureliano, Amaranta, Remedio, José Arcadio), em uma narrativa repleta de personagens e situações fantásticas: o patriarca José Arcadio, fundador de Macondo; Úrsula Iguarán, a mulher que vive mais de 115 anos; José Arcadio Segundo, único sobrevivente do massacre dos grevistas da companha bananeira de Macondo; Maurício Babilônia, sempre envolto em uma nuvem de borboletas amarelas; ou o cigano Melquíades, cujos pergaminhos preveem glórias e tragédias da família.
Com mais de 30 milhões de exemplares vendidos em cerca de 35 línguas, “
Cem anos de solidão” tornou- se não só o livro mais popular de García Márquez, mas também o emblema de uma geração da literatura latino-americana identificada com o rótulo do “
realismo fantástico”. A partir de meados dos anos 1960, enquanto o continente ia sendo encoberto pela sombra de ditaduras militares, autores da região alcançaram uma projeção internacional inédita. Além do colombiano, fizeram parte do chamado “boom” da literatura latino-americana escritores como o argentino
Julio Cortázar, o mexicano
Carlos Fuentes, o cubano
Alejo Carpentier e o peruano
Mario Vargas Llosa.