Como muitos de vocês já sabem porque contei aqui, arranjei um trabalho temporário em part-time. Estou a dar aulas de inglês como AEC (Actividades de Enriquecimento Curricular) numa escola básica da rede pública. Isto significa que trabalho duas horas por dias, durante alguns dias, pois estou a fazer uma substituição de outro professor.
Não é muito, mas para quem não tinha nada é uma oportunidade a não perder. Já tinha dado aulas de inglês no final da adolescência, mesmo antes de entrar para a faculdade, pois já tinha os cursos do Cambridge.
A experiência está a ser muito gratificante. Os alunos da primária são muito queridos, ternos e meigos. Os do 1º e 2º anos querem muito aprender e colaboram nas actividades que lhes proponho com muito interesse e dedicação. Os do 4º ano, já estão a entrar na fase em que se acham muito engraçadinhos, que podem dar "baile" ao professor. As duas turmas do 4º ano dão-me mais trabalho do que as outras todas juntas.
Ontem tive uma experiência deliciosa numa destas turmas. Esta turma é muito pequena. Tenho em sala apenas 9 alunos. Acreditem, ainda existem algumas turmas pequenas nos centros urbanos da rede pública. Esta turma teria tudo para ser uma turma fácil, mas não é. Dos 9 alunos há 3 pestinhas impossíveis. Um rapaz que se acha engraçado e finge que é atrasado mental, sem o ser. Mas as piores são duas miúdas que se acham o máximo. Gritam e guincham o tempo todo, acham-se as maiores do mundo e por sua grande sorte são bastante inteligentes e conseguem ter bom aproveitamento , apesar de prejudicarem o resto da turma com o seu comportamento.
Ontem quando cheguei à escola a outra professora de inglês avisou-me que teríamos festa de anos com bolo, ou na minha sala de onde era o aniversariante, ou na sala dela onde está o irmão. O aniversariante eu ainda não conhecia. É um miúdo com trissomia 21 que costuma estar na sala da educação especial mas que pertence a esta turma. As miúdas tagarelas pediram-me autorização para o ir buscar e explicaram que ele deveria estar connosco na aula de inglês o que nem sempre acontecia pois na educação especial nem sempre sabem os horários das AEC e não o trazem.
Eu concordei e passado um pouco as alunas chegaram com o aniversariante e a professora da educação especial que me informou que o pai do aluno estaria a chegar com o bolo. O mais giro foi ver a forma carinhosa como esta turma terrível recebeu o seu colega com trissomia 21. Todos o queriam ter ao pé de si, as duas miúdas engraçadinhas viraram mães protectoras do seu colega. Ficaram sossegadinhas na aula, escreviam as palavras em inglês numa folha para o seu colega as copiar. Elogiavam o colega quando ele copiava as palavras correctamente, enfim, de pestinhas viraram anjinhos, apenas pela presença de um colega com trissomia 21, por quem se sentiam responsáveis e queriam mimar e proteger.
São estes momentos que se tornam tão gratificantes. A escola pública tem esta diversidade que enriquece os alunos. Aprendem a conviver com as diferenças, aprendem a proteger os mais fracos, aprendem o valor do carinho. Nem imaginam o que foi de abraços e beijinhos ao seu colega. Nem imaginam os abraços que eu própria recebi desta criança que nunca me tinha visto mas que estava mais feliz que nunca, por ser o seu aniversário, ter uma coroa de rei da festa e ser tão acarinhado pelos seus colegas e irmão.
E vocês, também já tiveram situações que os surpreenderam de uma forma especial?
Bonita história e não deixo de ficar surpreendida porque certas crianças nessas idades são muito más e cruéis para outras que têm deficiências ou usam óculos ou usam aparelho nos dentes, etc, etc.
ResponderEliminarFelizmente que não são todas assim. :)
le-laissez-faire.blogspot.pt
Eu também fiquei surpreendida. Mas tive a sensação que isto se deve a um excelente trabalho da escola e da educação especial, em explicar as coisas aos alunos e a pedir-lhes colaboração com o colega. No fim é isto que se pretende na sociedade, que as pessoas sejam bem informadas e assim possam aceitar e ajudar quem mais precisa.
EliminarExactamente! A informação é meio caminho andado para uma pessoa não se tornar preconceituosa.
EliminarObrigado pela partilha :)
ResponderEliminarhomem sem blogue
homemsemblogue.blogspot.pt
Uma das razões porque criei o blog: partilhar os melhores momentos.
Eliminar:)
Tão bom! Faz-nos ter a certeza que ainda existe esperança para a humanidade! Ensinar é realmente muito gratificante.
ResponderEliminarEspero que esta experiência continue a ser tão positiva!
Adorei o Blog!
Bjnhs
MSM
Cluelessbyfashion.blogspot.com
Obrigada. Adoro ensinar miúdos pequenos, ou adultos.
EliminarAquela faixa do meio, em que acham que a escola serve para dar "baile" ao professor, não querem aprender, repele-me. Admiro muito quem o consegue fazer.
É bom de ver que isto ainda pode acontecer, eu infelizmente tenho-me deparado com situações diferentes dessa e que me dão grande pena de ver em crianças tão pequenas - 4 e 5 anos - já tanta maldade e preconceito para com os outros.
ResponderEliminarhttp://fashionfauxpas-mintjulep.blogspot.pt
Infelizmente o preconceito existe, por isso esta história se torna tão especial, quando vemos que um bom trabalho da escola dá frutos positivos.
EliminarQue bom ouvir isso. Depois de ler relatos da agressividade dos miúdos e as queixas de maus comportamentos, é muito bom ouvir exemplos destes.
ResponderEliminaralvaquasetransparente.blogspot.com
Não deixa de ser uma pedra no charco, mas temos de usar estes bons exemplos para ter força para continuar a trabalhar e tornar estes momentos mais comuns.
EliminarÉ mesmo bom ouvir experiências dessas :)!
ResponderEliminarhttp://semjeitonenhum.blogspot.pt
Fico contente por ti, sempre é alguma coisa e ajuda-te a ocupar o tempo. :)
ResponderEliminarnão é só na escola publica que há esses bons exemplos! e ainda bem!
ResponderEliminara minha filha mais velha fez toda a pré-primária numa escola privada e tinha um colega na turma com autismo. ver toda uma escola no geral e aquela turma em particular fazer da diferença um ponto forte é maravilhoso. todos sem excepção além aceitar (conceito que desconheciam) apoiavam a criança com tanto amor que nem imagina. o sentido de protecção era aquilo!
aliás, posso dizer que uma vez a boneca da minha filha foi parar às trazeiras do prédio, atirada pela janela. ela obviamente ficou trite e contou-me, ao que respondi "deixa lá, foi uma patetice...". levei um raspanete de uma criança de 5 anos, do qual me orgulho muito, sobre o problema do menino e de como lidar com isso.
também posso deixar outro exemplo: quando ela me quis explicar quem era determinada pessoa (a unica na sala com cor de pele diferente) disse que era a menina dos óculos cor-de-rosa!
entretanto mudou de escola, e tenho pena que estes valores não sejam prioritários...
Que maravilha é sempre bom poder trabalhar e deparar com experiencias novas e melhor ainda!
ResponderEliminarXoxo
Hoje apetece-me deixar aqui uma historia do meu blog que vais adorar ;-)
ResponderEliminarTens que ler!!!
http://historiasdasandrafotos.blogspot.com.es/2013/01/casar-com-um-fotografo-homem-30-motivos.html#
Beijos,
Sandra Campos
E Felcidades por esta nova e boa conquista profissional ;)
ResponderEliminarBeijinhos,
Sandra Campos
Olá Paula, já acompanho o blog a algum tempo. A verdade é que me identifico em muito daquilo que escreve. A minha vida mudou muito nos ultimos meses (a long story) e hoje precisamente recebi uma boa noticia que vou substituir uma rapariga por licença de maternidade. Não é nada demais, é um contrato de 6 meses mas para mim uma excelente noticia e mais uma pequena conquista num meio cada vez mais complicado. E olha posso dizer que sinto aquilo que tu descreveste no outro post, temos que saber valorizar estas coisas que nos vão aparecendo, sempre é mais esta oportunidade de "entrar" mais algum. E quem sabe também não me apareçam momentos em que eu sinta "que valem a pena". Mais que não seja por estarmos de novo ocupadas e sentirmo-nos úteis. Um beijo e continuações para essa nova experiência (como costumo dizer:estamos sempre a aprender e o "maior saber da vida é aprender" Raquel
ResponderEliminarOlá Raquel,
EliminarDesejo-lhe muito boa sorte para esta nova fase.
Concordo consigo, temos de aproveitar todas as oportunidades. Por vezes começam com coisas pequeninas que depois crescem e dão frutos bonitos.
Sempre tive este espírito, de aceitar desafios e ir tentando que os desafios sejam cada mais mais estimulantes e dentro do que pretendemos. A vida não é uma linha recta mas meandros que nos levam onde queremos, se formos direccionando a nossa vontade a aceitando os desafios que surjam, mesmo que um pouco para o lado do que queremos. Curva para lá, curva para cá e lá nos vamos aproximando do que queremos. A água, se não correr para o lado nos meandros, fica estagnada, podre. Ao circundar os obstáculos, flui, vai seguindo o seu caminho em direcção ao objectivo.