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24 de junho de 2016

Cristiano Ronaldo, o micro da cmtv e nós



Não entendo todo este alarido com a atitude do Cristiano Ronaldo, quando atirou o microfone de CM TV para o lago, após um jornalista deste meio ter aproveitado um passeio com a seleção para fazer uma pergunta parva, num momento em que as perguntas não estavam autorizadas.

O Cristiano é um ídolo mas não é um santo. Não tem de ser. Eu também não sou. Eu, no seu lugar teria feito exatamente o mesmo, como forma de controlar o impulso de dar com o microfone na cara do jornalista.

Tenho fervido por dentro com este assunto. Finalmente encontro um texto que expressa tudo o que sinto. E melhor que tudo, escrito por uma jornalista. Não resisto a publicá-lo aqui. Com referencia à fonte e à autora, claro.

não me choca nada o que cristiano ronaldo fez. e porquê? explico.
primeiro, ele não agrediu ninguém. agarrou no símbolo daquela organização criminosa e mandou-o ao rio/lago whatever. o tipo da cmtv não fez nada de especialmente agressivo? é verdade. limitou-se a fazer uma pergunta anódina, por aí não haveria motivo para aquela reacção. e até pode ser óptima pessoa e -- porque os há decerto naquele antro -- jornalista, e bom. mas trabalha para aquela empresa energúmena. e o cristiano ronaldo, como qualquer outra pessoa sistematicamente atacada por aquela cloaca, não tem de saber quem é aquele indivíduo. só tem de conhecer o logo no micro.

há outras formas de lidar com os ataques do cm? deve-se recorrer aos tribunais? sim, sim, claro. mas boa sorte com isso. sendo certo que a organização em causa, e muita gente com ela, reputa o recurso aos tribunais de acto de censura, de mordaça, e de pressão -- um acto inadmissível de violência, em suma. e ai do juiz que dê razão a quem recorre aos tribunais, que o cm lhe fará a folha. pelo que, hoje em dia, haver juízes que dêem razão a alguém contra o cm é altamente improvável. e de caminho quem foi enxovalhado gastou dinheiro em advogado e custas e ainda tem de pagar as do cm (se não sabem, ficam a saber).

fazer isto a um 'jornalista' do cm é 'abrir 1 porta', e a seguir pode-se fazer a outros? news flash: muito pior que isto já sucedeu a jornalistas em portugal, nomeadamente na madeira, e nunca vi grande reacção. mas o essencial que há para dizer sobre essa perspectiva nem é isso; é que somos nós, os jornalistas, que temos a responsabilidade por alguém nos confundir com o cm. somos nós, os jornalistas, que com o nosso silêncio e a ausência de exigência de auto-regulação deixámos que isso sucedesse, pelo que se nos começarem a tratar a todos como se fizéssemos parte da mesma escumalha não nos podemos queixar. deixámos o cm ganhar a guerra; somos terreno conquistado por falta de comparência na batalha. culpa nossa, exclusivamente nossa.

tudo isto conduz a uma conclusão: na ausência de demarcação da classe jornalística, na ausência de reacção do estado de direito, o que resta a quem é perseguido, vilipendiado, invadido, difamado? a santidade? a fuga? o suicídio?

eu prefiro a luta. o cristiano ronaldo também. e, atendendo às circunstâncias, acho que o que ele fez não só é plenamente justificado como teve imensa classe. foi um acto de um simbolismo que não tenho pejo em considerar belíssimo. o logo do cm foi para o seu habitat natural: o lodo.
foi assim que a cidade nos deixou, neste caso: sós contra o mal. cada um por si.

Por: Fernanda Câncio em Jugular

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