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22 de julho de 2014

Consultório

Recebi este pedido do João (nome fictício).

“Tenho uma vizinha, que terá 40/41 anos, casada, com duas filhas, com quem tenho uma relação cordial.
Somos vizinhos e até falo mais com o marido, que que é amigo dos meus pais, do que com ela.
Aqui há uns meses tivemos uma atividade paroquial, em que falámos mais e em que passamos mais tempo juntos, embora sem qualquer tipo de caráter sexual ou sensual, até porque estávamos incluídos num grupo, com mais duas pessoas, amigas em comum.
Depois disso, reparei que quando estamos na eucaristia a mulher olha para mim, ou fixa o olhar em mim por vários momentos.
Pensei que fosse um devaneio meu, podia estar a acontecer alguém perto de mim que lhe chamasse a atenção, mas independentemente do sítio, e do ângulo em que estejamos colocados o olhar dela procura o meu, olhamo-nos e depois desvia o olhar, ou eu... Acontece dezenas de vezes em todas as eucaristias.
Este olhar terá algum significado?
Eu não nego e não escondo que tenho uma certa atração por mulheres mais velhas, já tive relacionamentos sexuais com mulheres dessa faixa etária, mas esta troca de olhares deixa-me intrigado porque não fui eu que procurei esse olhar.
Mas não há mais nenhuma aproximação.
O que me diz disto, se é que me pode ou quer ajudar”

Eu querer ajudar quero, João.
Não sou psicóloga mas sou mulher. Casada. Mãe de três filhos. Vamos ver se consigo.

O João sente-se atraído por uma vizinha, na casa dos 40, casada e mãe de duas filhas. O João sente uma troca de olhares na Eucaristia e gostava de perceber esta questão.
João, as mulheres casadas não são cegas e um homem com 30 anos como o João deve ser bem parecido. Não o estou a ver daqui, nem o conheço, mas é a flor da idade de um homem. Já não é um miúdo mas ainda é muito jovem. Desperta com certeza o interesse de muitas mulheres.
O João provoca uma grande curiosidade na sua vizinha e quem sabe até uma atração. O que o João deve saber é que uma atração numa mulher casada, raramente a leva a vias de facto. O que quero dizer é que apesar de poder ter uma atração por si, não quer dizer que leve a mais alguma coisa.
Como disse uma mulher casada não é cega, admira o que a rodeia, gosta de observar mas normalmente o sentido de família faz com que fique por aí.

Não faço juízos de valores mas o João deve pensar na consequência dos seus atos. Ter um relacionamento com uma mulher casada, fora do seu círculo de vida, não trará consequências quando for descoberto. Há que pensar que vai ser descoberto. Não se conseguem manter segredos para sempre. Um segredo destes será segredo até ao dia em que for descoberto pelo marido. Quando essa mulher estiver fora do seu círculo e o relacionamento for descoberto, deixará de a ver, sem mais consequências para a sua vida.

Mas esta situação é diferente, não é verdade João? Esta mulher é sua vizinha. O João mora com os seus pais, conhece o marido dela. Frequentam a mesma igreja, os mesmos eventos da paróquia. Aqui, o enredo é maior. Imagine que chega a ter alguma coisa com esta mulher e o seu marido descobre. Como irá ficar o João perante o marido? Como irão ficar os seus pais? Como irá o João ficar perante os seus pais? Como ficará perante o seu pároco e a sua paróquia?

Como sabem eu não sou católica mas sinto-me habilitada a falar sobre isto pois tive uma educação católica. Fui baptizada. Fiz a primeira comunhão, a profissão de fé e não fiz o crisma pois na altura não o faziam. Cheguei ao fim deste percurso e fui convidada para catequista. Na altura agradeci e recusei pois apesar de concordar com os valores não concordava com a doutrina.
Eu sempre fui do contra. Ou antes, tive a mania de pensar pela minha cabeça. Não consigo seguir uma religião que não aceita a homossexualidade, que recusa o planeamento familiar, entre outras coisas. Retive o que achei bom, os valores. Recusei o que não consigo aceitar, uma doutrina retrógada e injusta.

Isto para chegar aos valores. Um dos grandes valores ensinado é a fidelidade, a honestidade. Por isso lembro a questão de pensar sempre na consequência dos seus atos. A fidelidade pode levar a que a sua vizinha, apesar de poder sentir uma atração por si, nunca aceite avançar mais. Se acabarem por avançar, pode por em causa o casamento dela, a sua vida na sua comunidade, na sua paróquia, perante os seus pais e vizinhos. E até perante o marido dela.

Não se esqueça, ELE sabe onde mora. Nunca se conseguirá esconder dele. Está preparado para viver com medo?

2 comentários:

  1. Não percebo a dúvida. Ela é casada.(Ponto)
    Se eventualmente ela não tiver juizo...acho que deve ser o João a ter...digo eu!

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Digam de vossa justiça!