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16 de junho de 2014

Afinal não sou a pior mãe do mundo

As notas dos exames do 4º ano trouxeram-me um turbilhão de emoções.
Primeiro, claro está, a ENORME felicidade de ver a minha filha a ser bem sucedida nos estudos.
A segunda, a admiração, pois não estávamos à espera. Nem nós, nem ela.
Durante o ano não teve más notas. Começou o ano com um suficiente que utilizámos para explicar que se não trabalhasse o suficiente poderia chumbar. Trabalhou muito. Graças à professora que puxou imenso pelos miúdos. Por todos. Fracos e fortes. Pô-los a trabalhar imenso. Ensinou, exigiu e voltou a exigir. Em casa correspondemos. Pusemo-la a trabalhar muito. Ajudámos nos estudos. Explicámos e exigimos.
No 3º período o trabalho foi tanto que lhe dissemos estar muito orgulhosos do que tinha feito, independentemente dos resultados. O que quer que fossem os resultados iríamos admirá-la pela qualidade do trabalho feito.
Fez os exames e achou-os fáceis. Eu fiquei preocupada, como expliquei aqui.
Muitas vezes a facilidade esconde rasteiras. Fiquei receosa.

Quando vi as notas dos exames na pauta não queria acreditar! 5 a Matemática e 5 a Português! A segunda melhor aluna da turma. Uma colega também teve 5 - 5 com maior percentagem.
Isto foi uma subida alucinante, graças ao trabalho e força de vontade. Se tivesse sido fácil a minha alegria não seria tanta. Mas foi com esforço, muito esforço!

Isto faz-me reviver o dia em que me senti a pior mãe do mundo. Foi há quase 2 anos. A minha vida deu a maior volta possível e tive de arrancar os meus 3 filhos do colégio onde estavam desde os 3 anos. Quem mais sofreu foi a mais velha. Ter de deixar os amigos de longa data. De repente, sem preparação.

Tirá-los abruptamente do colégio fez-me sentir falhada. Sentia que não estava a dar aos meus filhos aquilo que mereciam, o melhor.

Foram para a escola pública. Eu sabia que a escola pública tem excelentes professores, profissionais dedicados. Tudo uma questão de sorte. O que mais me custou foi retirar-lhes os amigos mais chegados.
Mas eles foram fortes. Adaptaram-se muito bem. Fizeram novos amigos. Mantiveram alguns do colégio.

A mais velha mostrou alguma rebeldia não querendo estudar. Passámos uma fase complicada com ela. Recusava-se a estudar. Ficava sentada à secretária sem fazer nada.

Com muita conversa, explicações e por fim chantagem: se não estudasse não ia às festas de aniversário dos amigos do colégio, para as quais ainda era convidada. Lá conseguimos que cedesse.

Saiu do colégio muito mal preparada. Nós queixávamo-nos à  professora que ela não sabia fazer contas, que não entendia os textos e sempre recebíamos uma desculpa esfarrapada "não se preocupem, não é do programa!". Nós acompanhamos nos trabalhos de casa e bem víamos: não sabia nada.

Por vezes há males que vem por bem. Este foi um deles. Eu nunca os teria tirado do colégio se não tivesse sido obrigada. Acreditamos que o ensino é melhor, o que nem sempre é verdade, e temos horários mais flexíveis para os pôr e ir buscar à escola. Sabemos onde estão todo o dia e não temos de fazer malabarismos para os deixar na escola na estreita faixa horária em que o portão abre, nem temos de correr para os ir buscar a horas demasiado cedo para serem compatíveis com trabalhos por conta de outrem.

A nova professora é super competente. Muito experiente. Na casa dos 50, já lhe passaram muitos alunos pelas mãos. Não deixa cair nenhum. Não se dedica apenas aos bons para ignorar os mais fracos. Puxa por todos. Fui falar com ela. Ao fim de duas semanas na nova escola a professora explicou-me como estava mal preparada a matemática e a português. Deu-me um plano de estudo. Explicou-nos o que deveríamos fazer com ela ao fim de semana para que recuperasse. Muito honesta e metódica. Sem falinhas mansas. Ela tem dificuldades nisto, nisto e nisto. Têm de fazer isto, isto e isto.

Assim fizemos. Depois da rebeldia inicial, aplicou-se. Fez amigas do peito. Andou feliz na nova escola durante dois anos. Culminou o 1º ciclo com notas máximas nos Exames Nacionais! Fiquei cheia de orgulho nela, no seu trabalho. E isso também apaziguou a minha culpa de a ter tirado da sua escola de sempre.
Afinal não sou a pior mãe do mundo!

16 comentários:

  1. É verdade, há males que vem por bem. Há escolas públicas muito boas com excelentes professores. Assim como há privados com professores medíocres....nem tudo o que é pago e caro é bom :) Parabéns pela tua menina.

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  2. Claro que não! As mudanças são sempre complicadas e repletas de emoção. O mesmo se passou com o meu mais novo e a mudança foi de público/público. Ainda bem que lhes ficam as amizades mais resistentes :)

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  3. Parabéns!:) Uma porta fechada é uma janela aberta!

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  4. Eu já dei aulas no público e no privado. Depois desta última experiência, jurei a mim mesma que NUNCA colocaria um filho meu no ensino privado. O que nos era exigido a nós, professores, era que passássemos os alunos, preferencialmente com boas notas, mesmo os que pouco ou nada sabiam ou faziam... Para esses faziam-se testes mais fáceis para que pudessem ter melhores resultados. Andei um ano revoltadíssima com aquele sistema de ensino. O que nos era pedido era mostrar à comunidade, pais e futuros papás de filhinhos de colégio, que era tudo um mar de rosas... colégios NUNCA!

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  5. Estás entre as melhores, não te preocupes;), uma mãe que escreve o que acabaste de escrever só pode ser muito boa!
    Beijinho

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  6. És uma mãe orgulhosa e tens razões para isso. Há mudanças que custam, mas vêm por bem :).

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  7. Parabéns pelos resultados.
    Creio que professores podem ser bons e maus funcionários como quaisquer outros, o problema é a repercussão do seu mau desempenho.
    bjs

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  8. Que orgulho...
    É tão bom ouvir isto, sei que é verdade...felicidades.
    Parabens Mae que acreditaste sempre na tua Filha.
    www.margaridaflordaminhavida.blogspot.pt

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  9. Olá! Obg pelo seu post. Nós estamos a viver essa angústia neste momento. Temos 3 filhas e tb temos que as tirar do colégio :(. Depois de 2 meses de sofrimento para tomar uma decisão, chegámos à conclusão que não temos outra hipótese. Só não sabemos ainda entram para a escola ao pé de casa - outro drama :( :(. Que nos preocupa mais é sem dúvida a mais velha.
    Obrigada.

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    1. Posso compreender o que sentem pois passei pelo mesmo. Cheguei a sentir-me a pior mãe do mundo, mas as peças encaixam-se, eles abrem horizontes, fazem novos amigos e descobrimos que lhes demos outras oportunidades.
      Mas é difícil. Faz doer o coração e cair algumas lágrimas.
      Até que passa e tudo fica mais simples.

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    2. Obg Paula :), Deus queira.
      Para já ainda estou na fase de me sentir péssima, e ainda não lhes contámos... bjnh. Xana

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  10. Parabéns!!! Eu andei num colégio até ao 7º ano do liceu, e até esse momento era das melhores alunas da turma porque o nível de ensino era do mais fraco que se possa imaginar - na altura não sabia, hoje em dia vejo bem como isso foi - e por causa disso tornei-me preguiçosa a estudar e a fazer os trabalhoa de casa, no colégio bastava-me o que ouvia nas aulas para ter excelentes notas, então para quê dar-me ao trabalho de fazer mais, pensava eu? Quando fui para o liceu público foi um enorme choque, o nivel era muito diferente, as expectativas também, e não havia cá abébias para ninguém. Infelizmente comigo o mal estava feito, se por natureza sempre detestei estudar coisas que não me interessassem, com a experiência no colégio fiquei ainda pior e nunca mais recuperei dessa preguiça. Se calhar se tivesse ido logo para uma escola pública, teria sido diferente, por isso, sim, há males que vêm por bem!!!
    http://bloglairdutemps.blogspot.pt/

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  11. Olá Paula, e agora :( :(??
    Só entrou uma delas. Será possível?
    Que desconsolo :(
    Bjnhs
    Xana

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