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2 de fevereiro de 2014

A minha praxe

Volto ao tema das praxes.
Desta vez para dar a minha opinião pessoal.
No final da década de 80 entrei para a universidade em Lisboa. As praxes estavam a começar na capital. Não era comum ver estudantes com traje académico. Tudo era uma novidade por Lisboa.
Na altura era muito difícil entrar na universidade, pelo menos num curso que se gostasse. Ainda não tinham nascido mil e uma universidades privadas, com cursos tão estranhos quanto inúteis.
Conseguir, naquela altura entrar para a universidade era motivo de uma alegria imensa.
Entrei feliz da vida, a rebentar de orgulho e alegria. No primeiro dia de aulas fomos praxados. A praxe começava com um aluno mais velho a fingir de professor e a dar-nos uma primeira aula. Falava-nos da exigência do curso e dava-nos uma lista da bibliografia recomendada, cerca de uma centena de livros que nos deixava desde logo assustados.
No fim da aula o disfarce era desvendado e éramos pintados, faziam-nos cantar. Uma praxe bem soft, com padrinhos que nos protegiam, muita camaradagem entre colegas mais novos e mais velhos. Seguiam-se muitas festas de recepção ao caloiro, muita diversão e alegria.
Nunca me opus a ser praxada, mas se o fizesse não haveria consequências. Era tudo uma brincadeira. Eramos mesmo uns meninos. Não fui humilhada, nem forçada ou coagida a fazer algo que não quisesse.

Infelizmente as praxes de hoje não são como as dos finais dos anos 80. Humilhação, coação, obediência, hierarquias, submissão são palavras de ordem.

Não posso concordar com estas praxes. Não me venham com o consentimento, pois aceitação sob coação não é consentimento.

Há uma linha que separa a camaradagem, a recepção e acolhimento aos novos alunos, da humilhação, submissão, coação e outras práticas que nem sequer são legais.

Possivelmente ainda existirão praxes decentes, calorosas e amigáveis. No entanto há que trazer este tema para a praça pública e discuti-lo abertamente. A linha entre o aceitável e o abominável não pode ser cruzada. Onde fica essa linha dever ser muito claro para todos, caloiros e veteranos; Pais e professores; Universidades e sociedade civil.

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