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17 de janeiro de 2013

Os momentos que valem a pena

Como muitos de vocês já sabem porque contei aqui, arranjei um trabalho temporário em part-time. Estou a dar aulas de inglês como AEC (Actividades de Enriquecimento Curricular) numa escola básica da rede pública. Isto significa que trabalho duas horas por dias, durante alguns dias, pois estou a fazer uma substituição de outro professor.

Não é muito, mas para quem não tinha nada é uma oportunidade a não perder. Já tinha dado aulas de inglês no final da adolescência, mesmo antes de entrar para a faculdade, pois já tinha os cursos do Cambridge.

A experiência está a ser muito gratificante. Os alunos da primária são muito queridos, ternos e meigos. Os do 1º e 2º anos querem muito aprender e colaboram nas actividades que lhes proponho com muito interesse e dedicação. Os do 4º ano, já estão a entrar na fase em que se acham muito engraçadinhos, que podem dar "baile" ao professor. As duas turmas do 4º ano dão-me mais trabalho do que as outras todas juntas.

Ontem tive uma experiência deliciosa numa destas turmas. Esta turma é muito pequena. Tenho em sala apenas 9 alunos.  Acreditem, ainda existem algumas turmas pequenas nos centros urbanos da rede pública. Esta turma teria tudo para ser uma turma fácil, mas não é. Dos 9 alunos há 3 pestinhas impossíveis. Um rapaz que se acha engraçado e finge que é atrasado mental, sem o ser. Mas as piores são duas miúdas que se acham o máximo. Gritam e guincham o tempo todo, acham-se as maiores do mundo e por sua grande sorte são bastante inteligentes e conseguem ter bom aproveitamento , apesar de prejudicarem o resto da turma com o seu comportamento.

Ontem quando cheguei à escola a outra professora de inglês avisou-me que teríamos festa de anos com bolo, ou na minha sala de onde era o aniversariante, ou na sala dela onde está o irmão. O aniversariante eu ainda não conhecia. É um miúdo com trissomia 21 que costuma estar na sala da educação especial mas que pertence a esta turma. As miúdas tagarelas pediram-me autorização para o ir buscar e explicaram que ele deveria estar connosco na aula de inglês o que nem sempre acontecia pois na educação especial nem sempre sabem os horários das AEC e não o trazem.

Eu concordei e passado um pouco as alunas chegaram com o aniversariante e a professora da educação especial que me informou que o pai do aluno estaria a chegar com o bolo. O mais giro foi ver a forma carinhosa como esta turma terrível recebeu o seu colega com trissomia 21. Todos o queriam ter ao pé de si, as duas miúdas engraçadinhas viraram mães protectoras do seu colega. Ficaram sossegadinhas na aula, escreviam as palavras em inglês numa folha para o seu colega as copiar. Elogiavam o colega quando ele copiava as palavras correctamente, enfim, de pestinhas viraram anjinhos, apenas pela presença de um colega com trissomia 21, por quem se sentiam responsáveis e queriam mimar e proteger.

São estes momentos que se tornam tão gratificantes. A escola pública tem esta diversidade que enriquece os alunos. Aprendem a conviver com as diferenças, aprendem a proteger os mais fracos, aprendem o valor do carinho. Nem imaginam o que foi de abraços e beijinhos ao seu colega. Nem imaginam os abraços que eu própria recebi desta criança que nunca me tinha visto mas que estava mais feliz que nunca, por ser o seu aniversário, ter uma coroa de rei da festa e ser tão acarinhado pelos seus colegas e irmão.

E vocês, também já tiveram situações que os surpreenderam de uma forma especial?

19 comentários:

  1. Bonita história e não deixo de ficar surpreendida porque certas crianças nessas idades são muito más e cruéis para outras que têm deficiências ou usam óculos ou usam aparelho nos dentes, etc, etc.
    Felizmente que não são todas assim. :)

    le-laissez-faire.blogspot.pt

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    1. Eu também fiquei surpreendida. Mas tive a sensação que isto se deve a um excelente trabalho da escola e da educação especial, em explicar as coisas aos alunos e a pedir-lhes colaboração com o colega. No fim é isto que se pretende na sociedade, que as pessoas sejam bem informadas e assim possam aceitar e ajudar quem mais precisa.

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    2. Exactamente! A informação é meio caminho andado para uma pessoa não se tornar preconceituosa.

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  2. Obrigado pela partilha :)

    homem sem blogue
    homemsemblogue.blogspot.pt

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    1. Uma das razões porque criei o blog: partilhar os melhores momentos.
      :)

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  3. Tão bom! Faz-nos ter a certeza que ainda existe esperança para a humanidade! Ensinar é realmente muito gratificante.
    Espero que esta experiência continue a ser tão positiva!

    Adorei o Blog!

    Bjnhs
    MSM

    Cluelessbyfashion.blogspot.com

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    1. Obrigada. Adoro ensinar miúdos pequenos, ou adultos.
      Aquela faixa do meio, em que acham que a escola serve para dar "baile" ao professor, não querem aprender, repele-me. Admiro muito quem o consegue fazer.

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  4. É bom de ver que isto ainda pode acontecer, eu infelizmente tenho-me deparado com situações diferentes dessa e que me dão grande pena de ver em crianças tão pequenas - 4 e 5 anos - já tanta maldade e preconceito para com os outros.
    http://fashionfauxpas-mintjulep.blogspot.pt

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    1. Infelizmente o preconceito existe, por isso esta história se torna tão especial, quando vemos que um bom trabalho da escola dá frutos positivos.

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  5. Que bom ouvir isso. Depois de ler relatos da agressividade dos miúdos e as queixas de maus comportamentos, é muito bom ouvir exemplos destes.

    alvaquasetransparente.blogspot.com

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    1. Não deixa de ser uma pedra no charco, mas temos de usar estes bons exemplos para ter força para continuar a trabalhar e tornar estes momentos mais comuns.

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  6. É mesmo bom ouvir experiências dessas :)!

    http://semjeitonenhum.blogspot.pt

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  7. Fico contente por ti, sempre é alguma coisa e ajuda-te a ocupar o tempo. :)

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  8. não é só na escola publica que há esses bons exemplos! e ainda bem!
    a minha filha mais velha fez toda a pré-primária numa escola privada e tinha um colega na turma com autismo. ver toda uma escola no geral e aquela turma em particular fazer da diferença um ponto forte é maravilhoso. todos sem excepção além aceitar (conceito que desconheciam) apoiavam a criança com tanto amor que nem imagina. o sentido de protecção era aquilo!
    aliás, posso dizer que uma vez a boneca da minha filha foi parar às trazeiras do prédio, atirada pela janela. ela obviamente ficou trite e contou-me, ao que respondi "deixa lá, foi uma patetice...". levei um raspanete de uma criança de 5 anos, do qual me orgulho muito, sobre o problema do menino e de como lidar com isso.
    também posso deixar outro exemplo: quando ela me quis explicar quem era determinada pessoa (a unica na sala com cor de pele diferente) disse que era a menina dos óculos cor-de-rosa!
    entretanto mudou de escola, e tenho pena que estes valores não sejam prioritários...

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  9. Que maravilha é sempre bom poder trabalhar e deparar com experiencias novas e melhor ainda!
    Xoxo

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  10. Hoje apetece-me deixar aqui uma historia do meu blog que vais adorar ;-)
    Tens que ler!!!

    http://historiasdasandrafotos.blogspot.com.es/2013/01/casar-com-um-fotografo-homem-30-motivos.html#
    Beijos,
    Sandra Campos

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  11. E Felcidades por esta nova e boa conquista profissional ;)
    Beijinhos,
    Sandra Campos

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  12. Olá Paula, já acompanho o blog a algum tempo. A verdade é que me identifico em muito daquilo que escreve. A minha vida mudou muito nos ultimos meses (a long story) e hoje precisamente recebi uma boa noticia que vou substituir uma rapariga por licença de maternidade. Não é nada demais, é um contrato de 6 meses mas para mim uma excelente noticia e mais uma pequena conquista num meio cada vez mais complicado. E olha posso dizer que sinto aquilo que tu descreveste no outro post, temos que saber valorizar estas coisas que nos vão aparecendo, sempre é mais esta oportunidade de "entrar" mais algum. E quem sabe também não me apareçam momentos em que eu sinta "que valem a pena". Mais que não seja por estarmos de novo ocupadas e sentirmo-nos úteis. Um beijo e continuações para essa nova experiência (como costumo dizer:estamos sempre a aprender e o "maior saber da vida é aprender" Raquel

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    1. Olá Raquel,
      Desejo-lhe muito boa sorte para esta nova fase.
      Concordo consigo, temos de aproveitar todas as oportunidades. Por vezes começam com coisas pequeninas que depois crescem e dão frutos bonitos.
      Sempre tive este espírito, de aceitar desafios e ir tentando que os desafios sejam cada mais mais estimulantes e dentro do que pretendemos. A vida não é uma linha recta mas meandros que nos levam onde queremos, se formos direccionando a nossa vontade a aceitando os desafios que surjam, mesmo que um pouco para o lado do que queremos. Curva para lá, curva para cá e lá nos vamos aproximando do que queremos. A água, se não correr para o lado nos meandros, fica estagnada, podre. Ao circundar os obstáculos, flui, vai seguindo o seu caminho em direcção ao objectivo.

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