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20 de dezembro de 2012

A entrevista

Acho que tive a entrevista mais longa da minha vida. Durou três horas. Deve ter sido dura, pensam vocês. Estar três horas a responder a perguntas não deve ser fácil. A verdade é que não foi nada disso. Acho que durante esse tempo fizeram-me uma única pergunta. Até achei estranho. Tiveram todo o tempo a explicar-me a actividade da empresa e os seus produtos. Uma área muito técnica, com as explicações muito em detalhe. Penso que mostrei que posso ser uma mais valia e que causei boa impressão. Penso, pois o meu interlocutor é daquelas pessoas pouco expressivas em que muito dificilmente conseguimos perceber o que pensa. Senti até que as minhas competências eram um pouco irrelevantes para a conversa. Pareceu-me tudo muito mais centrado nos produtos da empresa do que no que eu poderia acrescentar. Portei-me à altura. Demonstrei muito interesse por tudo e acrescentei comentários a marcar a minha experiência no sector de actividade.
Vou aproveitar-me do anonimato que este blog me dá e contar o que jamais confessaria em público. Tenho por hábito não escrever nada neste blog que não possa tornar público. Hoje, no entanto abro uma excepção.
Chegou aquela altura de saber as condições, pois já me tinham dito que era para entrada imediata. E de condições nada. Tive de puxar o assunto subtilmente. E nada. Continuava a falar no que queria que eu fizesse. Tive de perguntar abertamente qual a proposta de salário. Hesitação, silêncio, perguntaram-me até se eu pretendia um contrato de trabalho! Sei que isto não está fácil para as empresas, que há muitas contribuições e impostos a pagar, mas perguntarem se queremos um contrato de trabalho? É muito constrangedor. Depois a proposta. Tirada a ferros. Já não tinha uma grande expectativa. Quem me indicou, após ter recusado a oferta já me tinha indicado um valor. Baixo. Baixíssimo. Estava preparada para negociar esse valor. Mas o que ouvi deixou-me sem fala. A proposta foi ainda 20% mais baixa que o valor mínimo que tinham indicado. Não reagi. Tomei nota no caderno que levava. Nem pestanejei. Disse que iria analisar a proposta e que depois entrava em contacto para dar uma resposta.
Eu sei que o mercado está mal. Estava preparada para ganhar muito menos do que o meu salário anterior. Mas, para terem uma ideia esta proposta representa um valor 85% abaixo do que eu ganhava. Estava preparada para aceitar metade, ou mesmo um pouco menos. Agora 85% abaixo? Não acham isto uma afronta?
Fiquei triste. Muito triste mesmo. Aquele trabalho assentava-me como uma luva. É uma área em que tenho experiência. A empresa é pequena, com uma facturação interessante, mas com possibilidade de crescer muito. Eu sei que a posso fazer crescer. Sei como o fazer. Mas trabalhar por um valor que não me permite nem pagar a prestação da casa? Contratar uma profissional com todas as qualificações e experiência necessárias e querer pagar um ordenado miserável? Fiquei muito triste.
Queria muito aceitar. Mas estas condições são inaceitáveis. Caiu-me um balde de água fria. Não sei o que fazer. Estou a pensar apresentar uma contra proposta. O que fariam no meu lugar?

11 comentários:

  1. Se estiveres meeeeesmo a precisar, aceita ;) Depois logo se vê até arranjares outra coisa!
    Beijinhos, força!

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  2. Apresenta uma contra proposta e diz-lhes que esse valor será compensado pelo facto de ter uma profissional à altura... Vende-te, mostra-lhes que vales muito mais do que isso e que eles não se vão arrepender... A negociação é a base de um contrato. Se insistirem... desiste!

    Stilo

    http://blogdastilo.blogspot.pt/

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  3. Nem sei o que te diga, Paula. Eu não sei o que é ganhar um bom salário, só uma vez na vida recebi acima do salário minimo nacional - e foi porque estava no ensino, e a tal são obrigados - de resto sempre recebi o salario minimo ou abaixo deste, inclusive em trabalhos a tempo inteiro, por isso não sei que te diga. Eu neste momento aceito trabalhar por 250€ limpos, se for em part time, de tal modo vejo que as coisas estão... e não é por não ter qualificações, que até tenho, mas nunca me ofereceram mais que 485€ para trabalhar ahah! Faz a contraproposta, a ver o que eles dizem. Boa sorte!!
    http://fashionfauxpas-mintjulep.blogspot.pt/

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  4. Sou nova e fui a três entrevistas de emprego, e em todas fui aceite logo à primeira, mas se há coisa que aprendi com os meus pais é não ter vergonha de exprimir as nossas opniões e expectativas, desde que feitas, claro está, de forma educada.

    E se acha que é o trabalho ideal porque não dizer isso mesmo?

    Que adorou a empresa, sabe que tem potencial e que pode fazê-la crescer. Mas não pela proposta salarial apresentada.

    Ofereça uma contra proposta. Muitos empregadores, muitas vezes não sabem o valor a atribuir quando a pessoa tem as qualificações necessárias, e outros, simplesmente aproveitam-se da crise para ter margens de lucros muito maiores.

    Se já estava a pensar não aceitar pelo salário o que tem a perder em expôr o seu ponto de vista?

    http://dareyousb.blogspot.pt/

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  5. Oh, que pena... Infelizmente essas situações são cada vez mais frequentes. Eu, na minha área já vi propostas a metadade do valor que eu recebo, e pedem qualificações que nunca mais acaba. De facto, "patrão" começa a fazer de nós gato-sapato é o que é. Mas ânimo! A contraproposta mostra interesse e determinação. Eles gostam dessa atitude. Se quiseres dar-me mais pormenores sobre a tua área profissional, envia email. Nunca se sabe... Força!! :)

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  6. impressionante, parece-me que se aproveita desta situação de crise e da necessidade das pessoas porque se precisam de meter uma pessoa é porque estão a crescer!

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  7. Apresentava uma contra proposta! A verdade é que se lhe apresentaram um valor 20% mais baixo do que à pessoa que foi antes de si, é porque tem de negociar.

    Além disso, não tem nada a perder. Explique quanto ganhava antes, explique que está disponível para fazer concessões, mas que o seu limite mínimo é X.

    Na prática, quando andam à procura as empresas apresentam sempre valores negociáveis (alguns até MUITO negociáveis). Eu não negociei o meu e hoje arrependo-me, porque sei que há pessoas com menos experiência que eu a ganhar o dobro cá. Eu é que fui burra, não seja! Até porque esta é a altura mais fácil para negociar: antes de ser contratada. E faça-o por telefone, o e-mail é mais fácil de ser mal interpretado e mais fácil de esquivar. Confrontando a pessoa directamente é sempre mais fácil de conseguir um bom outcome.

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  8. Apresenta uma contra proposta... nem que se baseie em objectivos ou algo do genero!

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  9. Eu faria exactamente isso. Apresentaria uma contraproposta e obviamente salientava que apesar dos temos difíceis, ha que haver alguma dignificação do trabalho principalmente qualificado.
    Pelo menos é uma tentativa. Se nao aceitarem, terá que ver o que é melhor para si. Se p salário nao chega, ha que continuar a procurar.
    Boa sorte.

    alvaquasetransparente.blogspot.com

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  10. Como não tens nada a perder apresenta uma contraproposta.
    De facto nos dias que correm é vergonhoso alguns ordenados que oferecem a técnicos qualificados e com experiência.
    Bjs

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  11. Estas situações deixam-me profundamente revoltada. Sou profissional de RH, sei o impacto que tem uma remuneração desenquadrada da experiência e os efeitos nefastos que a mesma potencia a médio/longo prazo. Mas os nossos gestores continuam a gerir numa base diária. Não entendo.

    Só tu podes avaliar o que será melhor, neste momento: não ter uma actividade ou aceitar algo deste género.
    Estou de acordo com o que foi dito até ao momento, relativamente à contraproposta.
    Pensa apenas se não terás de "pagar para trabalhar", algo que já fiz e é ridículo. Se não aceitarem, e caso concluas que é melhor ter uma actividade, pensa que pode ser uma porta de entrada no mercado de trabalho (voltar a ser vista na área, fazer network...).

    É complicado mas acredito que vais escolher o melhor para ti.

    Um beijinho e muita força!

    http://sairdacaixinha.blogspot.pt/

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