Esta talvez seja a frase que melhor me define.
A vida tem-me pregado muitas partidas. Como se forças superiores me quisessem colocar à prova. Tenho passado muitas dificuldades a vários níveis. Uma infância e adolescência difíceis, que não me levaram para a droga ou alcoolismo mas antes que fizeram agarrar aos estudos com uma enorme vontade de chegar a
ser alguém na vida. Consegui ser esse alguém. Ter muito sucesso e reconhecimento na vida profissional. Constituir família.
Não fosse eu ficar demasiado arrogante com o que tinha atingido, a vida decidiu colocar-me à prova novamente. O desemprego duplo, meu e do meu marido, que chega quase ao mesmo tempo, precisamente durante a licença de maternidade do nosso terceiro filho.
Neste momento sentimos que nos tiram o chão debaixo dos pés. Se ao terceiro filho já temos o receio e nos questionamos em como vamos conseguir educar, sustentar 3 crianças, tendo os dois emprego, ao ficarmos os dois desempregados, posso dizer que dá medo. Muito medo.
Ainda assim não desistimos. Procurámos emprego que não encontrámos. Criámos o nosso próprio posto de trabalho. Com a crise que se seguiu tornou-se num descalabro financeiro. Terminamos o processo ainda com mais dívidas.
Vivemos muitos dias de aflição. Eu tive muito medo de perder a casa. De ficar com os meus 3 filhos na rua.
De um dia para o outro tivemos de os tirar do colégio onde sempre estiveram. Sem qualquer preparação. Literalmente de um dia para o outro. Sofri muito por eles. No fim eles adaptaram-se muito bem. Estão felizes nas suas novas escolas públicas. Mostraram que também são fortes, que se adaptam às dificuldades da vida. Que herdaram os nossos genes, ou que lhes soubemos passar os nossos valores. São uns lutadores e uns vencedores. E eu fico muito feliz com isso.
Tive um revés que mudou tudo e que contei
aqui. No dia antes do Natal ofereceram-me um emprego, numa empresa de vão de escada é certo, em que até tinha medo que não me chegassem a pagar o ordenado, para no último dia do ano me enviarem um e-mail a dar o dito por não dito, numa esquiva mentirosa que me insultou. Preferia muito mais que me tivessem dito: mudámos de ideias. Tão simples quanto isso.
Passei o Ano Novo com um balde de água fria em cima. Isso deu-me ainda mais vontade de dar a volta. De fazer algo diferente.
A pesquisa de
emprego não estava a resultar. Eu tinha de procurar algo diferente. Fui ao fundo do baú procurar outras competências que
nunca tinha usado a nível profissional. Encontrei o que nunca esperei. Comecei a cozinhar e a fazer bolos para fora. Descobri que mesmo em alturas de crise, a comida é o que ninguém pode dispensar. Mesmo em alturas de quebra de consumo, todos têm de comer todos os dias e várias vezes ao dia. E mesmo em alturas de crise há quem ainda tenha emprego e ganhe dinheiro. E são estas pessoas que
têm emprego e dinheiro que
não têm tempo. Não têm tempo para as coisas básicas da vida como cozinhar ou fazer um bolo. São estas pessoas que têm de dedicar as 24 horas do seu dia a manter o seu emprego. E descobri serem estas as pessoas dispostas a pagar a alguém que tem tempo, vontade, dedicação e bom gosto para fazer um prato delicioso para uma festa de família, ou um bolo para uma ocasião especial.
Desde Janeiro que me tenho dedicado a esta nova arte. Recebi muito em troca: quer o pagamento pelo meu trabalho, quer muito reconhecimento pelo que faço. Recebi muitos parabéns, muitas pessoas me disseram que o que fazia era delicioso.
Foi um novo alento na minha vida. Uma nova energia em mim. Fui novamente reconhecida pelo meu trabalho, ainda que num trabalho diferente. Voltei a ganhar dinheiro, ainda que não o suficiente para pagar uma renda.
Por isso, posso dizer a todos os
desempregados: não desistam! Procurem algo diferente. Todos servimos para alguma coisa, ou para muitas coisas. Procurem algo diferente e alguma coisa há-de surgir. As peças irão encaixar-se, como para mim.
Depois de começar a ter sucesso numa nova arte, a vida deu-me um grande presente. Ofereceu-me novamente uma
enorme dádiva. Deu-me a
oportunidade de voltar a trabalhar! Um
novo emprego na minha área! Numa altura como esta, o que mais podia desejar?
Estou
mil vezes grata à VIDA por mais esta oportunidade.
Prometo aproveitá-la com unhas e dentes!
São nestes momentos que sinto que algo superior me pôs à prova. Deu-me uma dificuldade enorme, para ver como reagia. Outros no meu lugar desistiram, caíram, suicidaram-se. Eu lutei, com todas as minhas forças! Tentei poupar os meus filhos às dificuldades, na medida do possível. Sabiam que não tínhamos dinheiro mas nada lhes faltou. Nem comida nem diversão. Passeios, brincadeiras, estarmos juntos não tem preço. Continuaram a divertir-se. Fizeram novos e fantásticos amigos nas escolas novas. São crianças felizes.
Eu, mais uma vez provei à
vida que
Não sou feita para desistir!